Hoje no caminho para votar – digo, enquanto atravessava a rua entre minha casa e o local de votação – lembrei que há algum tempo, quando mudamos para cá, não havia vaga nesse mesmo colégio e não foi possível transferir o título. Quando em março consegui a façanha de votar em frente à minha casa, não me atentei ao enorme luto que ali se iniciava.
Uma vez que as vagas estavam todas preenchidas, foi preciso que alguém saísse dali pra que eu entrasse; e aí entrou meu desespero. O que houve com esse ‘alguém’?
E se fosse esse alguém um velhinho muito do simpático que chegava pontualmente às oito horas para votar, sorria para os mesários e entregava um pacote com pedaços de bolo de chocolate com amêndoas que sua esposa preparara?
Eu não levei bolo aos mesários! Aliás, nem me lembro se sorri pra eles!
Se esse senhor – Joaquim, porque Joaquins são, em geral, gentis ao ponto de levar bolo – se importava o suficiente para isso, deve ter morrido; porque, vocês hão de concordar comigo que o Seu Joaquim nunca desistiria de votar só por não ser mais obrigado. Ele com certeza morreu!
E eu ali, desalmada, tomando o lugar do sorridente Joaquim! Que mesquinhez! E se o neto dele quisesse iniciar o seu ato de cidadania no mesmo lugar?!
E se aqueles pedaços de bolo eram importantíssimos para o Bruno – agora presidente da seção? E se a filha do Bruno estiver em casa esperando o bolo que o seu Joaquim levava?
De certo que a culpa dessa frustração em cadeia não é minha. Mas não terá sido insensibilidade da minha parte esquecer que tudo que é nosso já foi de alguém e que quando assumimos é preciso manutenção?
Já está decido: na próxima votação levo bolo!
Mas de morango pra não criar um ciclo vicioso.
2 comentários:
Eu gosto de bolo de morango *--*, faz um pra mim também!?
Bobinha...
Seu Joaquim foi desta para melhor. Quero dizer deste colégio eleitoral para outro melhor, mais pertinho da casa dele. Ficou tão feliz que parou de comer bolo de morango e entregou-se ao chocolate. Agora torce pra chegar logo o dia de votação só pra poder passar na doceria que fica ao lado do colégio. Lá conheceu a Dona Nice, ou Nicinha, como ele gosta de chama-la.
Viu? Tá tudo bem. Agora pode se concentrar em votar no melhor candidato e parar com essas frescuras.
hehehee
Lindo texto.
bjks
G
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