quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Viagem

Era em face de loucura leve. Quem sabe apenas tédio de abandono, posto que havia muito desde a última refeição. No sono doentio resolvera por deitar-se, vez ou outra lhe ocorriam dessas peculiaridades.

Havia em sono a Lua em cinza cor e a rua banhada pela noite também doente; um desejo de uma ânsia tomara suas idéias. Coitada! Já turvas o suficiente eram suas certezas!

Mas andava pelo medo do nada; estagnada só em sentimento, prometera a si mesma.

Em algum lugar do nada em sonho sabia que procurava um rosto. Um rosto de olhos, narizes e sopas. De letrinhas, por favor. Eram sim as palavras que lhe faltavam; era sim o verbo de face finda que procurava. Já doente da preguiça do tempo e do espaço, sabia que havia algo pelo que saber.

Fora então guiada pela fome e pela sopa. Era, então, andarilha das letras. Seria quente enquanto pudesse. Mas, até quando seria gente?

Em procissão monótona já caminhara de São Paulo a Mônaco e de novo à púrpura leveza do deslocamento. Era suficiente, decidiu.

Por intuição abriu uma porta e estava ali o hall e um pequeno elevador. Era fome e acomodação incômoda. Voltou-se então à sopa. Mas pera lá! Que desapego o dessas letras! Injuriada, recusou-se a mergulhar. Mas era tarde e era ânsia. Era seu nome o de ninguém.

Abriu-se um chamado e foi o barulho de chaves. E desmaiou. Deixou-se cuidar; era essa a sua sopa e era esse o quente da pele dourada.

Era dia, e era vida; já era hora e a hora era de se curar.

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