Quem me conhece sabe que meu passatempo favorito é ler. Sempre digo (quase com orgulho) que nunca me apaixonei por ninguém. Mas os livros, esses me puxam pelo ventre. Amei muitos.
Sofri com Elizabeth os preconceitos sociais do século XVIII em "Orgulho e Preconceito".
Amei de um modo puro com Angélica, em "O Sonho", de Émilie Zola.
Morri com Romeu, Julieta e Werther nas obras de Shakespeare e Goethe.
Consolei Frankenstein e "O Fantasma de Canterville", o primeiro, criado por Mary Shelley, o segundo, fruto da inspiração maravilhosa de Oscar Wilde.
Traí com "Madame Bovary". E fiquei na dúvida em "Dom Casmurro".
Malandreei junto com o Leonardinho, em suas "Memórias de um Sargento de Milícias".
Viajei com Saramago no "Conto da Ilha Desconhecida".
E quantas vezes não me debrucei sobre Agatha e Doyle para desvendar os crimes impostos a Poirot e Holmes.
Mas, para encurtar a conversa que já ficou longa demais (não teria como eu contar como me senti com cada livro que li. Felizmente, foram muitos), vamos a quem interessa:
Minhas tripas foram arrancadas por Gabriel García Márquez em "Crônica de uma Morte Anunciada".
Em um momento de carência estava percorrendo as estantes da biblioteca quando me deparei com o título interessante, em dourado na capa de couro vinho do livro. O tipo que me atrai. Sem pensar duas vezes, emprestei uma das obras que me mudaria um pouco (assim como todo o livro). Apaixonei-me assim, por García e seu jeito de escrever.
Isso foi há muitos meses atrás. Recentemente, durante mais uma crise, saí atrás de meu vício. O tempo escasso me obrigou a entrar em um período indesejado de abstinência. A literatura me fez falta, mais do que a comida ou o ar que respiro.
Não sabia direito com quem iria dormir, dessa vez. (Veja bem o que quero dizer: sempre leio antes de dormir, para permanecer com a história em meus sonhos). Não estava com um tipo pré-definido. Na biblioteca, optei por um clássico. Romântico ou dramático de preferência.
Entrei no corredor de Literatura portuguesa e Latina. Debaixo de um braço peguei um Saramago sem hesitar; no outro, queria algo diferente e desconhecido. O acaso me levou à seção do meu querido e pouco explorado Gabriel. Um título me chamou a atenção: "O Amor nos Tempos do Cólera". Já tinha ouvido falar muitas vezes, mas nunca havia imaginado que era do meu atual pretendente. Peguei, sem medo de ser feliz.
Com os dois em casa, decidi começar pelo mais curioso: Gabriel.
Mergulhei nas surpresas que me esperavam, enrolei-me em cada teia do enredo, e percebi que o livro tinha vindo no momento exato (como todos os livros da minha vida).
Voltei a pensar no amor, que há tempo eu tinha deixado de lado. Sempre me achei insensível e distante disso. Me perguntei de novo, como já fiz mil vezes, porque eu não acredito nesse amor que vejo por aí. O de Gabriel, eu me identifico e acredito.
Acredito em um amor faminto de gardênia, intenso, idealizado e repleto de vômitos fragrantes.
Acredito em amor pra vida inteira. Me dei conta disso tudo, lendo.
O problema entre o amor e eu não é a distância física, mas a temporal.
O que eu queria deixou de existir muito antes de eu nascer.
Um comentário:
Que legal, até eu fiquei com vontade de ler Gabriel.
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