domingo, 28 de novembro de 2010

Serenade

Às nem meias-noites dançavam - ou será que viviam? - as todas bailarinas. Corporizavam ou almatizavam, nunca se saberá, uns sons de mais um desses de uns outros lugares. Eram azuis as meninas enfileiradas; balas azuis em mesa preta embaladas em papel branco, mas nem um pouco comestíveis. E tão alcançáveis que de dentro eram.


Que se eram muitas, de uma teriam de ter vindo. Que se era uma, explodia-se de tantas.

Sincronizavam-se as meninas voando e invejando-se umas as outras pela beleza de todas juntas. E juntas voavam-se as belas enlaçando todas pernas de bonitas a nascer.

Eis que chega a traje roxo – que roxa podia ser a pele – um donzelo único ciscando entre as cabritas. E foi aí que as meninas separaram-se em unidade e dançaram cada uma em nome do próprio desamor.

Mas houve, porém, aquela única, que embora de igual túnica destacou-se na escuridão do primeiro lugar. Foi então a escolhida e deslizando entre as demais a princesa tratou-se de - com certa arrogância, é verdade - princesar.

As meninas desbotadas já agora ultrajadas demais para continuar, recolheram-se ao descanso.

E o casal de tom frio e quente foi gozando nos instantes o bonito do dançar. Eram mesmo completantes e se não eram amantes, eram amores a se encontrar.

Mas ainda que eternos, os casos mais ternos um dia têm de acabar; e voltaram as injustiçadas, ainda muito mal-amadas dançando até confundir. Já não se sabia quem era a primeira e desistindo do amor, o rapaz apaixonado decidiu-se por sair.

Não houve o choro esperado e as moças no tablado voltaram a bailar.

Houve, claro, outros roxos estonteantes buscando suas amantes e as tirando para dançar, mas nada como a primeira que perdendo as estribeiras foi ao canto talvez lamentar.

Caiu-se a pequena escolhida pela inocência de numa zinha confiar. Ficou deitada talvez chorando, talvez morrendo; talvez morresse de tanto chorar.

Veio o galã em instantes buscando por sua amante como aquele que não quis acreditar. A tira colo tinha a zinha que além de beleza ordinária – talvez pelo coitado papel – tinha as mãos nos olhos do pássaro roxo que minutos antes pulava parecendo voar.

Convencido do fim da matéria, como um Romeu fora de era, o rapaz foi embora, ainda que olhando para trás.

Mas na injusta posição de vida, a princesa ainda caída acordou-se para a morte – ou para vida – com o azul a lhe doer de tão sozinho.

E num final blasé vieram os outros, em vontade duvidosa, já que agora o espetáculo parecia terminar. Foi em glória e postura carregada a menina dura em braços alheios, rapazes fortes a se iludir. Iam-se todos e até a platéia, que a essa hora já estava a aplaudir.

Nenhum comentário:

Postar um comentário