Andando pelas ruas, se segurando nas paredes enquanto o mundo girava, não no seu movimento de translação rotineiro, mas despontando em cores que ressaltavam auras que não existem.
Via mas não enxergava coisa alguma: sentia o breu o engolir enquanto tudo ao redor se desfocava. E mesmo sem conseguir distinguir, sua percepção continuava aguçada, sabia o que estava vendo. Parecia que o mundo estava envolvido em papel celofane vermelho e azul.
Queria gritar e o fez, mas não sabia se saia som. Não conseguia perceber se o barulho que ouvia era interior ou exterior. Mas sua perturbação se fez exterior, e tudo foi para a sarjeta. Transeuntes viam o resultado de uma noite solitária em meio a multidão.
Ele via tudo o que o afligia saindo sem parar, deixando um gosto amargo na boca.
O que conseguiu, jogou fora, o resto, engoliu. Quem sabe mais tarde. Quando o Sol fosse embora.
Agora ele despontava no horizonte com a promessa de fazer tudo melhor. Mas não faria. Ele sabia disso.
Assim que a escuridão acesa da noite paulistana chegasse ele sairia, cego, em busca da psicodelia que era viciado.
Jurava que era só pelas luzes, mas era pelo som.
A música não o agradava, mas era mais alta do que sua consciência. Era para tocar com os olhos, beijar sem os lábios corpos que nunca o pertenceriam.
Só de pensar nas 20 horas que teria para frente, enjoou e continuou andando. Sumiu alguns degraus sem saber de onde.
Era razoavelmente alto. Devia ser bom pular dali e ir direto para o inferno. Assim, o frequentaria não só de madrugada no centro da cidade.
Sempre quis voar. E o fez.
Sentia o vento no rosto e caía em algo macio e reconfortante. Sua cama.
Se agarrou às paredes para evitar que o universo se partisse.
Então abriu os olhos!
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